I’m too old for this shit

16 nov

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Há um ano fiz uma viagem para o Chile. Foi exatamente assim: entrei de férias, vi uma promoção de passagem incrivelmente barata, comprei e voilà! Seis dias em Santiago. Fui sem planejar, sem nem olhar direito o que tinha pra fazer. Reservei um hostel por 3 dias, só pro no caso de eu não gostar eu poder procurar outro (burrice, o hostel era mara). Acabei conseguindo ficar lá por toda a viagem.

Mas o caso é que caiu no momento exato. Tinha feito 25 anos e aí vieram todos aqueles pensamentos: “sou jovem, mas não tanto assim, conquistei um monte, mas nem tanto assim”. E aí eles eram seguidos por: “tô velha pra balada e pra porre, mas to jovem pra conseguir pensar em comprar um apartamento, por exemplo”.

Quando comprei a passagem, automaticamente pensei: “tô velha pra hostel”, visto que nas minhas últimas viagens fiquei em hotéis legais. Eu sei que colocado assim, parece maluquice, onde já se viu alguém-de-vinte-e-cinco-anos-velha. Mas aí acho que isso vem do peso de ter me formado nova, ser independente e ficar sempre olhando pro futuro.

Depois bateu a onda do “será que ainda me viro viajando sozinha?”. E aí a viagem foi uma grata surpresa. Cheguei sem roteiro nenhum pré definido. Troquei uns poucos pesos no aeroporto, fui pro hostel de van (opção mais barata, pelo que tinha visto) e só. Cheguei antes do checkin, por isso deixei a mala na recepção e fui rodar pelo boêmio e charmosíssimo bairro de Bellavista. É o bairro universitário, com muitos bares e restaurantes. Fiquei simplesmente caminhando até chegar ao final da rua principal, onde era a subida para o cerro San Cristóbal. Subi de funicular (tipo um trenzinho) e tive uma vista incrível da cidade. Fazia sol, mas o vento geladinho batia. No fundo, avista-se as cordilheiras com suas montanhas de topo nevado. E aí eu percebi: Santiago era montanha e vale, era sol e frio, era vinho, eram seus inúmeros mirantes.

Na volta pro hostel, parei pra um almoço no Patio Bellavista, um shopping com muitos restaurantes à céu aberto. Acabei pagando caro, embora a comida fosse boa. Voltei para o hostel, entrei no quarto e decidi tirar um cochilo. Aliás, o mais legal nessa viagem foi fazer tudo no meu tempo. À noite, fiquei na área comum do hostel, que estava lotado de brasileiros, e conheci muita gente legal.

Nos outros dias, andei bastante pela cidade. Fiz o free walking tour (que eu recomendo muito, porque te leva nos lugares principais, contando histórias da cidade). Nada melhor para sentir uma cidade do que andar a pé por suas ruas. Fiz o passeio até o Embalse el yeso, que fica no Cajón del Maipo, uma região próxima a Santiago, onde o viajante vê uma paisagem de tirar o fôlego: lago, montanhas e neve descendo montanha abaixo (dependendo da época do ano). O passeio foi de van contratada, só dá pra chegar lá com agência, pois o acesso é bem difícil. No meu caso, conseguimos fechar um grupo com a galera do hostel e negociamos o preço direto com o motorista, o que acabou saindo mais barato.

Visitei duas vinícolas (que devem ser reservadas pelo menos um dia antes pela internet). Reservei tudo lá mesmo, porque fui ajustando a ida às vinícolas conforme meu roteiro ia se desenrolando. Tiveram dias mais calmos e dias super ocupados, como o bate e volta que fiz a Valparaíso e Viña de Mar. Nesse dia, saí um pouco tarde, já no final da manhã, fui de metrô até uma rodoviária, peguei um ônibus até Viña e passei algumas horas por lá, rodando e tirando fotos. De Viña a Valpo, fui de trem/metrô. Em Valpo, eu fiz o free tour e amei. A arquitetura, as casas desalinhadas, as subidas íngremes, a vista para o porto, as pracinhas… Tudo bem charmoso. Voltaria até para pernoitar. Foi um dia bem cansativo, mas ao mesmo tempo bem gostoso.

No último dia, visitei a casa de Pablo Neruda, La Chascona, que é linda e comprei algumas bugigangas na lojinha do museu. Pablo Neruda é a alma do Chile. Saí de lá inspirada e almocei no restaurante Meson Nerudiano, um especialíssimo caldillo de congrio, objeto de um de seus poemas,”Ode ao caldillo de congrio”. Melhor fechamento, impossível.

Tomei muito vinho, pisco sour, conheci pessoas bacanas, vi paisagens lindas, caminhei muito, conheci melhor a sombria história da ditadura militar chilena (tem um museu que vale a pena), provei comidas diferentes, vivi momentos inesquecíveis…Foi uma daquelas viagens pra guardar com carinho. E todos aqueles questionamentos pré-viagem foram amplamente respondidos.

Me viro viajando sozinha? MUITO.

Am I too old for this shit? NEVER.


Algumas dicas:

Rado Hostel

Restaurantes: Como água para chocolate (inteiramente turístico, mas atendimento excelente e comida maravilhosa)

Meson Nerudiano (preço um pouco salgado, mas a comida compensa)

Vinícolas: Cousiño Macul e Casillero del Diablo

 

Uma resposta to “I’m too old for this shit”

  1. Marcelo Carvalho 16 de novembro de 2016 às 2:02 am #

    Aeee! Faltou só as memórias fotográficas. Achei tão legal vc tocar nessa questão do too old for this. Tenho pensado muito nisso nesses últimos anos, as vezes até me pego desistindo se certas coisas por causa desses pensamentos. Bom vamos lá, vou tentar me permitir mais…

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