I’m too old for this shit

16 nov

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Há um ano fiz uma viagem para o Chile. Foi exatamente assim: entrei de férias, vi uma promoção de passagem incrivelmente barata, comprei e voilà! Seis dias em Santiago. Fui sem planejar, sem nem olhar direito o que tinha pra fazer. Reservei um hostel por 3 dias, só pro no caso de eu não gostar eu poder procurar outro (burrice, o hostel era mara). Acabei conseguindo ficar lá por toda a viagem.

Mas o caso é que caiu no momento exato. Tinha feito 25 anos e aí vieram todos aqueles pensamentos: “sou jovem, mas não tanto assim, conquistei um monte, mas nem tanto assim”. E aí eles eram seguidos por: “tô velha pra balada e pra porre, mas to jovem pra conseguir pensar em comprar um apartamento, por exemplo”.

Quando comprei a passagem, automaticamente pensei: “tô velha pra hostel”, visto que nas minhas últimas viagens fiquei em hotéis legais. Eu sei que colocado assim, parece maluquice, onde já se viu alguém-de-vinte-e-cinco-anos-velha. Mas aí acho que isso vem do peso de ter me formado nova, ser independente e ficar sempre olhando pro futuro.

Depois bateu a onda do “será que ainda me viro viajando sozinha?”. E aí a viagem foi uma grata surpresa. Cheguei sem roteiro nenhum pré definido. Troquei uns poucos pesos no aeroporto, fui pro hostel de van (opção mais barata, pelo que tinha visto) e só. Cheguei antes do checkin, por isso deixei a mala na recepção e fui rodar pelo boêmio e charmosíssimo bairro de Bellavista. É o bairro universitário, com muitos bares e restaurantes. Fiquei simplesmente caminhando até chegar ao final da rua principal, onde era a subida para o cerro San Cristóbal. Subi de funicular (tipo um trenzinho) e tive uma vista incrível da cidade. Fazia sol, mas o vento geladinho batia. No fundo, avista-se as cordilheiras com suas montanhas de topo nevado. E aí eu percebi: Santiago era montanha e vale, era sol e frio, era vinho, eram seus inúmeros mirantes.

Na volta pro hostel, parei pra um almoço no Patio Bellavista, um shopping com muitos restaurantes à céu aberto. Acabei pagando caro, embora a comida fosse boa. Voltei para o hostel, entrei no quarto e decidi tirar um cochilo. Aliás, o mais legal nessa viagem foi fazer tudo no meu tempo. À noite, fiquei na área comum do hostel, que estava lotado de brasileiros, e conheci muita gente legal.

Nos outros dias, andei bastante pela cidade. Fiz o free walking tour (que eu recomendo muito, porque te leva nos lugares principais, contando histórias da cidade). Nada melhor para sentir uma cidade do que andar a pé por suas ruas. Fiz o passeio até o Embalse el yeso, que fica no Cajón del Maipo, uma região próxima a Santiago, onde o viajante vê uma paisagem de tirar o fôlego: lago, montanhas e neve descendo montanha abaixo (dependendo da época do ano). O passeio foi de van contratada, só dá pra chegar lá com agência, pois o acesso é bem difícil. No meu caso, conseguimos fechar um grupo com a galera do hostel e negociamos o preço direto com o motorista, o que acabou saindo mais barato.

Visitei duas vinícolas (que devem ser reservadas pelo menos um dia antes pela internet). Reservei tudo lá mesmo, porque fui ajustando a ida às vinícolas conforme meu roteiro ia se desenrolando. Tiveram dias mais calmos e dias super ocupados, como o bate e volta que fiz a Valparaíso e Viña de Mar. Nesse dia, saí um pouco tarde, já no final da manhã, fui de metrô até uma rodoviária, peguei um ônibus até Viña e passei algumas horas por lá, rodando e tirando fotos. De Viña a Valpo, fui de trem/metrô. Em Valpo, eu fiz o free tour e amei. A arquitetura, as casas desalinhadas, as subidas íngremes, a vista para o porto, as pracinhas… Tudo bem charmoso. Voltaria até para pernoitar. Foi um dia bem cansativo, mas ao mesmo tempo bem gostoso.

No último dia, visitei a casa de Pablo Neruda, La Chascona, que é linda e comprei algumas bugigangas na lojinha do museu. Pablo Neruda é a alma do Chile. Saí de lá inspirada e almocei no restaurante Meson Nerudiano, um especialíssimo caldillo de congrio, objeto de um de seus poemas,”Ode ao caldillo de congrio”. Melhor fechamento, impossível.

Tomei muito vinho, pisco sour, conheci pessoas bacanas, vi paisagens lindas, caminhei muito, conheci melhor a sombria história da ditadura militar chilena (tem um museu que vale a pena), provei comidas diferentes, vivi momentos inesquecíveis…Foi uma daquelas viagens pra guardar com carinho. E todos aqueles questionamentos pré-viagem foram amplamente respondidos.

Me viro viajando sozinha? MUITO.

Am I too old for this shit? NEVER.


Algumas dicas:

Rado Hostel

Restaurantes: Como água para chocolate (inteiramente turístico, mas atendimento excelente e comida maravilhosa)

Meson Nerudiano (preço um pouco salgado, mas a comida compensa)

Vinícolas: Cousiño Macul e Casillero del Diablo

 

A melhor segunda feira da minha vida

5 fev

“Vocês sabem que vocês estão na França, certo?”

Desconcertada, respondi: “Claro, a gente apenas esqueceu de trocar o dinheiro. Mas vocês aceitam cartão, né?”

Passamos pela bilheteria nervosos, mas assim que entramos explodimos em gargalhada. Vocês sabem onde estão? hahhahahaha É claro que a gente sabe onde tá, a gente tá na França, mas o lago é o mesmo, a língua é a mesma, a gente só viajou uma hora para chegar aqui. Ou não, a gente poderia estar em um universo paralelo em que a gente viaja 1 hora e leva uma bronca por não ter trocado o dinheiro. Dinheiro de gringo é tudo igual, euro ou franco suíço, tanto faz.

Mas a gente não se cansou de fazer piadas com a mulher. Será que nós tínhamos voltado para a escola e ela era a diretora dando bronca por termos chegado atrasados? Dentro do jardim, parecia que a até as plantas riam com a gente. Éramos dois adolescentes, rindo e fazendo graça em um lugar onde as pessoas iam para meditar. Do que mesmo elas estavam tirando o seu pensamento? Satisfeitos após ver o Jardim dos 5 sentidos e frustrados depois de descobrir que o castelo não era aberto a visitação, voltamos para o centro. Era uma vila de vielas estreitas e casario da Idade Média. Dava para ver antigos porões nas casas. Há 600 anos poderia ser coberta por esgoto a céu aberto e bobos da corte, mas hoje era repleta de lojinhas vendendo bugigangas para turistas, uma simpática igrejinha, um parque e o lago que cerca toda a região.

Resolvemos parar para almoçar e não sabíamos o que comer, nem onde comer. Sentei na primeira mesa de restaurante na calçada em que vi. “Será que não é muito caro?” Perguntou meu companheiro de viagem. “Dane-se. É meu primeiro dia com 23 anos. Primeiro dia de uma nova idade. É mais importante que o primeiro dia do ano, sabia?”.

Depois de um tempo o garçom apareceu e trouxe o menu. Sabia exatamente o que iria pedir. Os tais filets de fera do lago Leman. Todos os dias quando saía do metrô eu passava na frente de um restaurante com uma placa anunciando os filets de fera do lago Leman. Nunca nem pensei em entrar. Talvez porque estivesse com pressa, talvez porque estava sozinha, talvez porque acharia o preço um absurdo. Como era caro comer fora na Suíça. Como era caro fazer qualquer coisa na Suíça. Mas não naquele dia. Naquele dia tinha que ser filets de fera do Leman. Não que eu soubesse exatamente o que seria fera. Suspeitava que era um peixe, pela referencia direta ao lago. Mas fera era o que eu queria comer, era o que eu queria ser.

Logo depois um outro garçom se aproximou dizendo em um péssimo inglês que a mesa era apenas para clientes do restaurante. No que respondi prontamente que eu gostaria de ser uma cliente do restaurante, contanto que ele anotasse meu pedido, oras. Fera ferida. Acho que nós estávamos nos sentindo dois adolescentes e nós estávamos parecendo dois adolescentes fazendo arte. O prato veio e a comida estava perfeita. Até hoje posso sentir aquele peixe frito na manteiga com limão, as batatas sauté, a salada verde com molho. Ou era isso, ou era a fome. Deve ter sido um dos melhores almoços da minha vida.

No dia anterior eu nem sabia ao certo se iria. Cheguei a noite e procurei informações sobre como ir até lá. Eu iria sozinha, mas vi que o companheiro de viagem estava online. Acho que nunca tive tantas desavenças com uma pessoa só em tão pouco tempo. E olha que tenho muitas desavenças. Ele era chato, inseguro, bobão, babaca. Mas, no fundo, era uma boa pessoa e não sei porque a gente ainda se falava. Resolvi convidar, mas achava que ele nunca iria topar. Disse que queria fazer o caminho mais longo e caro, que seria todo ele de barco (a outra alternativa era pegar um trem e um barco, que por incrível que pareça era mais barato e curto). Eu queria ver o quanto eu pudesse do lago Leman. E o que importava era mesmo o caminho. Mesmo assim ele aceitou. E naquele dia a gente concordou em tudo.

O dia não passou, o dia voou. Tiramos mais fotos, caminhamos um pouco e logo estava na hora da viagem de volta. Yvoire, a cidadela medieval, e meus 23 anos. A melhor segunda feira da minha vida.

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Hora de trocar as fotografias da parede

6 set

Não posso reclamar dos meus dias no Brasil. Fui na Bienal do Livro, fui ver o Botafogo no Maracanã (empatar de 0 a 0 pro São Paulo, mas ok), e, ao chegar em Rio Branco, a épica festa dos 100 dias. De volta ao meu apê, dirigindo o mesmo carro, indo pro mesmo hospital, fazendo as mesmas coisas de sempre. Mas eu sinto que está diferente. Eu sou uma pessoa diferente. Se importando menos com pequenas coisas, se estressando menos, se culpando menos. Dar valor ao que tenho (principalmente a ter uma geladeira só minha, porque dividir geladeira é uma barra).

Encontrei ontem com meus amigos da faculdade. Os mesmos de sempre. Mas um sentimento de despedida. De que está acabando, de que tudo vai ser diferente. E que, no futuro, a gente não vai se embebedar e conversar besteira na beira de uma piscina. Que a gente não vai estar junto pra dançar funk até o chão e nem pra criar coreografias ridículas. Tudo vai mudar. E o tempo está escorrendo pelas nossas mãos. Voltei com o pensamento de seguir em frente para novos planos, novas viagens, novos passos e terminar o curso. Sem olhar para trás. Mas como não olhar para o que me tornou uma pessoa diferente? Ou que me fez descobrir uma outra pessoa dentro de mim?

E as fotografias estavam lá. 50 fotos impressas da Austrália e da Suíça. Peguei na loja e elas estavam dentro de um saco. Deixei lá, enterradas. Mas hoje não. Olhei para cada uma delas. Paisagens, pessoas, pessoas com quem eu falo até hoje, pessoas que nunca mais vi, nem nunca mais verei. E elas estavam lá. E foram importantes em diversos momentos. Estava na hora de trocar as fotografias da parede.

~Música que Roxana me fez ficar viciada

Encontros, reencontros e desencontros

23 ago

Encontros, reencontros e desencontros.

Impossível falar sobre uma viagem como essa sem falar de encontros, reencontros e desencontros. Encontros que começaram do momento em que eu cheguei perdida na Maison des Cedres e encontrei Roxana e Irene. Continuaram quando eu conheci os outros participantes, os organizadores do programa e, depois, minha supervisora Christine. Christine teve paciência comigo quando eu estragava tudo. E me ensinou muita coisa. Continuou ainda, quando conheci a chefe, Liliane, e os phds e pós-docs, que todos os dias almoçam juntos, tomam café juntos. Como num ritual.

E são esses rituais, aquelas coisas que fazemos todos os dias e nem percebemos, mas que depois que acabam nos fazem uma falta extrema. Às vezes a gente tem a chance de se despedir como foi comigo hoje. Às vezes elas se acabam e a gente nem sabe como. Mas esse é o fluxo da vida. Tudo passa. E todos os dias, almoçar e tomar café com eles foi um desses rituais para mim. Com a diferença de que eu não tinha aquela presunção de achar que tudo dura para sempre, sabia que duraria pouco e, muito em breve, eu estaria de novo na minha longa jornada.

Sobre reencontros. Reencontrei Ben, em Milão, atrasado, cabelos grisalhos e uma face de quem viveu muito de um ano pra cá. Mais relaxado, mais bem humorado. Reencontrei Jeanne em Paris, como se nunca a tivesse deixado na Austrália. Mesmo jeitinho calmo, meio pão dura, meio desorientada para andar na rua. Mostrou-me todos aqueles lugares. Mora no apartamentinho mais charmoso de Paris. Bom, talvez não o mais, mas com certeza, exatamente como imagino que um apartamento em Paris deve ser: pequenino, com ar retrô e varandinha (só não dava pra ver a torre Eiffel, mas nesse caso, para efeitos ilustrativos, imaginamos que desse para ver).

Sobre desencontro. Um encontro que se desenrolou, se enrolou, se desenhou e, no final, virou um desencontro.

E no fim, aos poucos, a vida normal volta a dar seus sinais de vida. Suas preocupações, suas inseguranças, seus pequenos estresses. E a gente volta a ser a mesma pessoa de antes. Com um microlitro a mais de felicidade.

Tudo dá certo no final

28 jul

Eu iria para Zurique, acabou que eu perdi a hora. Quando levantei, fiquei puta comigo mesma por dormir demais e não conseguir turistar. Bati na porta da Roxana, e aí nega, bora fazer alguma coisa? Eu queria ter ido ao Castelo de Chillon, o castelo que passamos bem perto mas não entramos. Resolvemos ir, então, ao tal castelo. Pegamos o trem até Montreaux, uma cidade lindinha e de lá teoricamente teríamos que pegar um barco até o castelo. Porém, por livre espontânea pressão fui andando. Mais ou menos 1 hora de caminhada, mas o cenário é belíssimo. De um lado, o lago, de outro casas maravilhosas. E o caminho, cercado por árvores e flores. Chegando ao castelo, entramos e tinha até um panfleto em português falando sobre o castelo. O tal lugar pertenceu a casa de Savoy do século XI ao século XVI. Um dos prisioneiros, que passou 6 anos no castelo, quando libertado pelos bernenses que haviam tomado a propriedade, escreveu sobre sua estada em forma de crônicas. Tempos depois, ele ficou famoso, pois tantos os escritos dele, quanto o castelo, foram revisitados pelos autores do Romantismo, como Lorde Byron e Lamartine. Rousseau também escreveu sobre o castelo. Uma história, no mínimo, curiosa.

Depois fomos até a praia do outro lado de Montraux, mas dessa vez fomos de trem. Passamos a tarde lá e depois voltamos. Resolvemos alugar umas bicicletas e Qing, nossa roomate se juntou a nós. Pedalamos até a universidade, que fica fora de Lausanne, em St Sulpice. Na volta, o melhor: vimos uma banda tocando em Ouchy, que é aqui perto de onde a gente mora. Resolvemos dar uma olhada. Qing voltou pra casa, pois os chineses podem até comer a nossa comida, falar inglês, mas são bem tradicionais quanto a música e filmes. Ou seja, são pessoas que não conhecem os Beatles, por exemplo. Eu tomei umas cervejas e nossa noite terminou assim:

Adoro quando não planejo e tudo dá certo no final.

 

Genebra, ONU, etc

28 jul

Como eu só estou conseguindo postar 1 vez por semana, o post vai ser longo. E vou falar de muita coisa junta.

Durante a semana, trabalho no lab, o que é sempre uma coisa que amo fazer. No fim do dia, sinto aquele cansaço de fim do dia, mas nunca exausta, sempre com uma leve satisfação. Dou sorte em muitas coisas que faço, até agora nenhum experimento deu errado (bom, não totalmente) e mesmo que eu não esteja tendo os resultados que eu queria, pelo menos eu tenho resultados ráaaa!

Aí nos fins de semana eu tenho tanta coisa pra fazer, tipo sair por aí pra conhecer os lugares, enquanto a pilha de louça e a a roupa para lavar me esperam. Vida de dona-de-casa + turista + estudante não é mole! Anyway, fui para Genebra e conheci a sede da ONU, o que definitivamente foi o ponto alto da viagem. Tomou a manhã toda, mas valeu a pena.

O Palácio das Nações Unidas fica dentro de um parque que pertenceu a uma família riquíssima de Genebra. O último herdeiro não teve filhos e doou o parque a cidade. Uma parte do parque é aberta ao público e a outra, onde se localizam os prédios da ONU, é fechada, claro, pela segurança. Ao entrar, passamos pelo raio x até a mesa onde pedimos pela visita guiada. A visita em grupo é necessária para adentrar nos prédios. A nossa guia era uma italiana alta, de cabelos curtos, falando um ótimo inglês e muito simpática. Ela nos levou em várias partes, tanto no complexo novo, quanto na parte antiga, onde era a sede da Liga das Nações. Cada parada, uma história. Como as salas precisam ter duas portas para que nenhum país entrem em primeiro, ou como eles precisam alternar a ordem alfabética dos países entre inglês e francês para que nenhum país se sinta prejudicado ao se sentar e quando Irã e Iraque foram lavar sua roupa suja na ONU, eles tiveram que sentar de frente para o outro e não um do lado do outro como de costume (pela ordem alfabética). Muitos truques diplomáticos. Na parte antiga, entramos na sala mais antiga, onde foi a 1a assembléia geral da ONU, antes de construírem a sede em NY e antes de terminarem a parte nova em Genebra, logo no pós guerra. Eu fiquei imaginando como isso teria sido. Os vencedores da guerra promovendo a paz mundial. Depois da visita, com todos esses pensamentos, comecei a conversar com  Roxana, Constanza e Carina, sobre o quão irônico (no mínimo) é a ideologia da ONU e o que a ONU faz na verdade. Conferência sobre desarmamento e todos os países do conselho de segurança são altamente armados.

Mas conflitos políticos a parte, os prédios são verdadeiras misturas culturais. A cada parede um mural, pintura, escultura de diferentes países, dados de presente a ONU. A sede recebe até pavões de presente. Isso porque o último herdeiro da família, dona do parque pediu que o parque tivesse sempre 6 pavões. E que esses pavões seriam imortais. Claro que eles não o são, assim a ONU precisa repor os pavões sempre (às vezes eles são devorados pelas raposas, segundo a guia) e os países oferecem pavões de presente. Pois é. Só achei muito triste, procurar um presente do Brasil e não encontrar. Bando de pão duro.

Depois da ONU, fomos a um dos parques, almoçamos na grama  (cada um levou sua comida, pra ficar barato). E depois vimos o relógio de flores, o jato d´água e o calçadão na beira do lago, que na verdade, se estreita tanto que parece um rio. Depois fomos até a parte medieval, vimos a catedral, que tinha um sítio arqueológico, com coisas do século V, quando a primeira catedral foi construída. Tinha coisas bem legais, tipo o piso da sala de estar do papa do século V. Depois andamos mais um pouco, tomamos sorvete (eu pedi petit gateau, que aqui chamam de fondant au chocolat, não sei se tem alguma diferença) e fomos embora. Pena que não deu pra ir nos museus. Dia 10 voltarei pois é o dia dos fogos de artificio e também o dia da nossa visita ao CERN!

Domingo, resolvi descansar. As meninas foram pra Bern, eu até disse que iria, mas estava mega cansada (ser turista cansa). Além do que, eu tinha que lavar roupa, cozinhar e descansar para a semana! Acabei indo na praia aqui perto mesmo, só para tomar um sol e não desperdiçar o dia ensolarado (hoje deu bem uns 30 graus fácil).

Hoje tive a sensação que o tempo está voando. Quase 3 semanas aqui! E eu ainda queria visitar tantos lugares, porém não vai ser possível tendo somente os finais de semana para viajar. É aquela sensação de se estar perdendo algo. Se trabalho mais, parece que não estou aproveitando o suficiente. Se me divirto mais, parece que não estou trabalhando. Muito estranho.

PS.: Esse texto teve o propósito somente de jogar uns pensamentos, da maneira mais organizada que eu encontrei, mas sem um tema definido

Fachada

Fachada

Uma das sala de reuniões

Uma das sala de reuniões

Prédio da antiga Liga das Nações

Prédio da antiga Liga das Nações

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Outra sala de reunião

Chafariz

Chafariz

Fachada

Fachada

Pequenos curta metragens

16 jul

Coisas que acontecem em alguns segundos.

Número 1 – Sexta-feira. Sentada no bar do clube mais famoso da Suíça (pelo menos foi o que me disseram). A sola dos pés dolorida. Eu brinco com o gelo restante no copo com um canudinho preto. Reflito sobre as propriedades da água. Olho em volta, pessoas se pegando, pessoas bebendo, pessoas dançando. Exatamente como é em Tóquio, Paris ou São Paulo. No fundo, o grupo da epfl e as duas chatonildas da Unil*, que me fizeram correr de salto. Todo mundo pulando naquela música de um tom só. E eu ali, que paguei 25 francos, para saber como era a melhor boate da Suíça, sentada no bar. Velha demais pra isso.

Número 2 – Sábado. Montreaux. Era para eu ter ficado no festival de música. Mas decidi sair andando atrás do tal castelo. Anteriormente havíamos andado um bocado na direção errada. E uma das garotas, que já estava de mal humor, queria matar todo mundo. Com certeza, psicótica. Psicótica mesmo. Num grupo de 20 pessoas, pelo menos uma tem que ser (eu acho). E a tal garota era estranha desde o primeiro dia. Toda conversando com todo mundo como se fosse melhor amiga. Depois, aquela mania chata de grudar e nunca sair sozinha. Ainda bem que comigo ela viu que o chiclete não gruda. Esvaziando a mente de pensamentos sobre a tal garota, voltei a me concentrar no castelo. No final, sobramos eu, Roxana e o chinês que não consigo nem escrever e nem pronunciar o nome. Chegamos quase no castelo, quando Roxana viu que íamos perder o horário. Dali, ela tinha que ir falar com o namorado no Skype e eu e todos ou outros tínhamos planejado ir ao filme de graça no parque. Não chegamos ao castelo. 

Número 3 – Domingo. Lac Léman. Dia da tomada da Bastilha. Fomos ver os fogos na praia, com direito a churrasco. Quando a queima de fogos começou, precisávamos de um microscópio para ver. Era longe. Do outro lado do lago, na cidade de Evian, na França. Mesmo assim, enquanto todos os outros desistiram, ficaram apenas Irene, Constanza e eu. Fazia frio. Nós dividíamos uma toalha, que logo virou um cobertor. E não demos uma palavra. Mesmo longe, era tão perto. O dia da tomada da Bastilha. Era revolução.

O mundo não é o nosso quintal

7 jul

A viagem foi longa. Até Portugal, foi algo como 9 horas. Aí ainda teve a fila na imigração, depois espera para o avião para Genebra. De Genebra, o trem para Lausanne foi um pouco traumático, pois o povo só faz falar francês e não há nenhuma informação sobre horários. Cheguei a estação principal de Lausanne e ainda fui para o metrô para chegar aqui em Ouchy. E depois andar uns 15 minutos até a acomodação, que também não tem sinalização alguma. Isso tudo com 2 malas. Aí chegando aqui, depois de tudo isso, eu nao sabia como pegar a chave (isso porque eu não li o email rs) e fiquei uns 20 minutos pensando na vida. Como se não bastasse, começou a chuviscar. Era a droga da lei de Murphy, me dando boas vindas.

Até que a Irene e a Roxana me encontraram e me mostraram tudo (ufa). A Roxana foi um anjo na terra e ainda me ajudou a carregar a mala por 5 andares (elevador quebrado), além disso ela é minha roomate. No fim, uma viagem de mais ou menos umas 15 horas, duas malas e pés inchados terminou com uma boa noite de sono.

No dia seguinte foi a apresentação do curso. Eles vieram nos encontrar aqui na acomodação (Mason des Cedres). Muito legal quando uma das organizadoras me chamou de “Alin Crrrrristina MarrrrrinÔ”. Foi o mais francês que eu já pude chegar. Antes disso, porém, conhecemos o gerente, um galeroso (não sabia que na Suíça tinha mano também) que não sabia falar inglês (oi?). O cara é uma exceção aqui na Suíça, pois é extremamente mal educado. Depois no encontramos com as organizadoras e pegamos o metrô e o trem até o campus da Unil, que é muito longe daqui.

Estamos no bairro de Ouchy, que seria tipo o South Bank de Brisbane ou algo como Ipanema ou Leblon no Rio. É o bairro das barcas (barcas chiques), do lago, do museu olímpico, do parque, dos hotéis, das patisseries e mais a frente, temos a praia de Bellerive (praia de lago). O lago é enorme e se vc atravessar de barca, dá pra chegar na França. O inconveniente é ser muito longe da universidade e um pouco afastado do centro.

No primeiro dia, na Unil, teve um café da manhã com apresentação da universidade, do curso, das pessoas. Tivemos uma aula de segurança no lab, o que foi inútil, porque depois eu vi que o povo do lab nem jaleco usa.Depois conhecemos os mentores, mas, como eu suspeitava, a minha não estava lá, apenas a post doc, Christine, com quem me correspondi. Eu estava com muito medo do pessoal ser enjoado, principalmente a Christine, com quem eu vou me relacionar mais. Mas não precisou de um dia, para que essa imagem se dissipasse. A Christine é francesa de Toulouse, mas fala bem inglês e é uma fofa. No dia seguinte é que eu fui conhecer a group leader, Dr Liliane Michalik, que também é francesa. Fiquei morrendo de medo, pois ela tinha horário marcado comigo e ela não tinha ido lá me receber. Mas assim que eu entrei, ela foi uma fofa também, só perguntou se eu tinha chegado bem, se eu tava gostando, onde eu estava hospedada, essas coisas. Aí ela esclareceu o que eu já suspeitava, que ela não fica mais na bancada, acaba se dedicando mais em escrever, orientar, dar aulas, essas coisas, e que eu ia ficar sob a supervisão da Christine. Nessa hora eu me lembrei da Fiona, minha orientadora da Austrália, que se desdobrava pra ficar em cima dos estudantes no lab, porque ela não queria largar a bancada de jeito nenhum.

No sábado, fomos a excursão para os alpes, onde escalamos mais de 1200 metros de altitude no monte Grammond. Hoje, todos os músculos da minha perna doem, mais valeu a pena. A vista é impressionante, o caminho é muito lindo, com todas aquelas flores e arbustos. Acho que fotos não fazem jus. Até o lago Taney, a trilha foi no meio da floresta. Depois, subimos a montanha até o topo, onde passamos por fazendas, campos e eu vi a neve pela primeira vez!!! Mas ao contrário do que o senso comum acha, não estava frio, na verdade estava bem quente! Só esfriou mesmo na volta.

Escalar foi uma experiência incrível, que todo mundo deveria tentar. Eu, a sedentária mor, sempre ficava por último, por isso quase não tenho foto com o grupo de pessoas. Teve momentos em que eu ficava extremamente tonta, com náuseas e ofegante. Acho que nunca bebi tanta água de uma vez. Eu nunca achei que eu conseguiria chegar até o topo da montanha. E eu cheguei. Em pequenos passos e por último (nessa hora todo mundo aplaudiu). Mas cheguei. E assim é na vida, não importa o quanto você demore para conseguir o que quer, o que importa é ir atrás.

No fim da caminhada, de volta ao lago Taney, nós comemos um banquete de Raclette, regado a muito vinho branco. Raclette é um prato onde vem queijo gruyere derretido e você pode colocar batata, aquela cebola pequenina, mini picles, pão e frios para acompanhar. Uma delícia. E o melhor: tudo de graça! Pago pelo curso!

Não tem nem uma semana que me encontro em Lausanne, mas com certeza essa foi a melhor decisão da minha vida. Juntamente com ir para Austrália, claro. Por isso, sempre incentivo quem quer fazer intercâmbio, ciência sem fronteiras, etc. O mundo não é, nunca foi e nunca será o nosso quintal.

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Hora de Recomeçar

1 jul

Depois de quase um ano sem postar, eu volto. Volto para falar da vida que continua sem fronteiras. Recebi muitos feedbacks positivos das pessoas e fiquei muito emocionada com eles. Nunca tinha imaginado que essas besteiras que eu escrevo iam tocar tanta gente. Mas essa é a internet, né?! Nesse meio tempo, incentivei muita gente a se inscrever no CsF. E tentei curtir a minha volta. Mas agora um novo cenário entra em jogo. Eu vou a mais uma aventura sem fronteiras: a Suíça. Calma, vou começar do começo.

Antes, uma coisinha: esse texto não é sobre a Suíça, nem sobre a Europa. É sobre planos que mudam, encontros que não acontecem, sonhos que mudam. O começo de tudo isso foi a Austrália. Mas essa parte vocês já conhecem. Depois, teve a volta, um baque, um balde de água fria. E aí a reorganização. Como quando ocorre uma reação, um composto se quebra, mas as moléculas tem de se reorganizarem. Elas simplesmente tem. Enquanto eu passava o ano novo reorganizando a casa, os pensamentos, me afastando de pessoas, me aproximando de outras, me planejando, no Carnaval, eu passei pensando sobre como tudo que eu tinha planejado para o ano de 2013 poderia mudar radicalmente.

Era uma festa na 2a de carnaval. Eu fui com João, meu amigo do coração do CsF, e os amigos dele pra essa festa no Catamaran. Não sei se foi a bebida, os coqueiros iluminados, os barcos atracados ou a vista incrível, mas era como se eu tivesse um daqueles momentos inexplicáveis de felicidade instantânea. Ao fundo, tocando Rita Lee com Lança Perfume. E aí tive a certeza: tudo pode mudar. A vida não é imutável.  Em apenas um segundo, tudo se transforma. Bom mesmo é se reinventar.

Quando recebi a resposta, as pernas tremeram. E eu tive a certeza que tudo iria mudar. E agora, o frio na barriga nessa segunda feira nublada no Rio, pós final de Copa das Confederações, em época de manifestações, véspera de viagem. Um encontro que não aconteceu. E eu, que passei o início de ano planejando os mínimos detalhes, não sei nem o que vai acontecer hoje. Melhor parar com as expectativas. Melhor deixar de planejar. Hora de recomeçar.

PS: Postarei sobre o que vou fazer na Suíça em breve.

All dressed up in love

22 jul

Pouco mais de 24 horas após a minha chegada, cá estou eu no sofá da casa de vovó assistindo o filme do Sex and the city. Há algum tempo, meu amigo Álvaro me perguntou como seria o post final do meu blog. Respondi que seria algo como o final desse filme: sobre amor e como ele transforma a nossa vida (e Jennifer Hudson gritando “and I found looooooove”)

Falo de amor, mais do que o romântico, mas entre amigos e entre a família. E entre as pessoas em geral. Antes mesmo de ter viajado, tive experiências em que pessoas não próximas me ajudaram direta ou indiretamente. E agora, mais do que tudo, eu acredito nesse tal de amor.

Eu vi amor nas minhas amigas asiáticas que foram ao jantar do Treasury Casino e me desejaram tudo de melhor naquele abraço na Queen Street. Eu vi amor na Sincere, que queria me ver todas as noites antes de eu ir embora. Eu vi amor no meu amigo Alvaro, quando se despediu de mim numa fria noite em Sydney. Eu vi amor no meu amigo João que foi comigo no aeroporto e carregou minha mala. Eu vi amor no Mike quando ele soltou minha mão no aeroporto de Brisbane.

Parece que tudo foi um sonho quando, de repente, acordo na cama do meu quarto na casa de vovó e aquele meu quartinho pequenino da Urbanest não está mais lá. E agora estou aqui, vendo Sex and the City, como muitas vezes fiz desde que esse filme foi lançado. E chorando com Mr. Big abandonando Carrie no altar.

Ao contrário do que eu disse ao meu amigo, eu ainda não estou na parte em que tudo dá certo e Jennifer Hudson solta voz. Estou meio na parte que ela foi abandonada mesmo. No final, eu e Mike não estávamos dançando a mesma música. A minha vida dos últimos 5 meses virou lembrança. Mas eu sei que vou chegar no all dressed up in love. Porque, no fim, eu sei que é. E o que me faz sentir nem que seja um pinguinho de felicidade é todo esse amor que eu recebi. E mesmo depois de tudo, eu ainda fiz um post sobre o amor.